Maine Océan

Dejanira, uma bailarina brasileira, apanha o comboio Maine-Océan na estação de Montparnasse. Não tendo validado o seu bilhete, é confrontada por dois revisores inflexíveis e socorrida por uma advogada parisiense, que lhe serve de intérprete e de quem se torna amiga. Uma espécie de Torre de Babel cómica, o filme desenrola-se em torno das falhas de comunicação entre personagens de diferentes nacionalidades, classes e posições sociais, enfatizando o carácter absurdo e a arbitrariedade inerente a tais separações. Produzido por Paulo Branco, com fotografia de Acácio de Almeida, o filme foi uma lufada de ar fresco na paisagem cinematográfica de meados dos anos oitenta, e ainda há pouco tempo surgia na lista das obras-primas do cinema francês dos últimos 70 anos no jornal Le Monde. Por cá, João Bénard da Costa chamou-lhe Um dos mais modernos dos filmes modernos. Amplamente considerado o melhor trabalho de Rozier, Maine-Océan é um estudo melancólico e profundamente empático sobre a condição humana e sobre o próprio cinema.
— Medeia Filmes
 
A seguir aos estudos no IDHEC e depois de ter trabalhado como assistente de Renoir, o mais admirado porque o mais livre para uma nova geração que despontava no cinema francês, Jacques Rozier (1926-2023) realizou duas curtas na segunda metade dos anos 50, e Godard escreveu sobre ele maravilhas. Falava na “lucidez da sua improvisação”, de um cinema “jovem e belo, como os corpos de vinte anos de que falava Rimbaud”. Seguiram-se os maiores elogios de toda a equipa dos Cahiers da altura, e foi também Godard que o apresentou a Georges de Beauregard, que viria a produzir a sua primeira longa, Adeus Philippine. Mas Rozier vivia e criava com uma ‘liberdade livre’ [“o cinema é uma questão de risco e desejo, como o amor”, dizia] e as coisas não foram fáceis durante a produção. O filme, uma obra admirável, “o mais Nouvelle Vague dos filmes Nouvelle Vague”, como se escreveu, só veria a luz em 1962, depois da estreia das primeiras longas de Truffaut e Godard. E aí começava uma das obras mais singulares, mais livres e geniais do cinema francês. Rozier deixou-nos uma mão cheia de longas e várias curtas para o cinema e uma dezena de trabalhos notáveis para televisão. Paulo Branco produziu-lhe um dos seus melhores filmes de entre os melhores, Maine Océan, com fotografia de Acácio de Almeida, que o jornal Le Monde colocou na lista dos 50 melhores filmes franceses de sempre.
Foi um outsider (como o foram Eustache e Pialat) e os seus filmes nunca tiveram estreia comercial em Portugal, uma lacuna que é agora finalmente reparada.
Esta obra de uma enorme frescura, que celebra a vida e, simultaneamente, a sua fragilidade, o desejo, a relação com a natureza, uma errância despreocupada, quase como arte poética, que ambicionava conciliar a arte moderna e a arte popular, com personagens de várias está agora a ser recuperada e a conquistar um cada vez maior número de espectadores. É também uma obra que celebra o Verão e esta é a melhor altura para mergulhar nesta experiência poética e libertária. Para irmos com Rozier à la plage.