Assombrações, rituais, legados e transmissões
O tema da assombração estará no centro do trabalho: quais são as narrativas enterradas, as histórias-fantasma que as nossas narrações dominantes nos impedem de ouvir? À medida que o nosso presente ganha fissuras, as grandes narrativas que ainda ontem nos sustentavam revelam hoje a sua obsolescência. A partir destas falhas, hoje inegáveis, reaparecem as narrativas minoritárias, inaudíveis e invisíveis, voltando para nos assombrar. Como é que estas histórias fizeram para sobreviver ao silêncio, para se tornarem estas centelhas precárias, mas bem vivazes, que assombram agora as nossas memórias, os nossos sonhos, e nos recordam os tremores da nossa humanidade? Como é que podemos escutá-las, pormo-nos ao seu serviço, disponibilizarmo-nos para a sua continuação? Que mecanismos devem ser concebidos para que estas recriações possam ser efetuadas? Em que condições podemos aprender com elas? A partir de relatos contemporâneos, reais e ficcionais, e da sua reconstituição, procuraremos compreender as condições de recriação e releitura dos acontecimentos, para que da sua reativação surjam novas versões, menos polarizadas, capazes de abrir caminho a uma zona intermédia, de perturbação, onde outras formas de coexistência se revelem possíveis.
 
Anne-Cécile Vandalem é a encenadora convidada para dirigir a 32.ª edição da École des Maîtres. Depois de estudar representação no Conservatório Real de Liège (Bélgica), iniciou a sua carreira de atriz com vários encenadores e coletivos de teatro belgas. Foi em 2003 que iniciou o seu trabalho de escrita dramática. Desde então, a ficção tornou-se a forma preferida da autora. Anne-Cécile Vandalem também trabalha no estrangeiro, nomeadamente na Schaubühne de Berlim (Alemanha). Em 2024, Anne-Cécile iniciou um novo ciclo de criações, Des mondes hantés, de onde sairão os próximos espetáculos, La Fête e Tremblements. Anne-Cécile Vandalem está também a trabalhar na adaptação de uma das suas peças para o cinema.
 
A École des Maîtres, criada por Franco Quadri (1990), é um dos mais importantes projetos internacionais de formação teatral avançada. Trata-se de um curso itinerante, com o apoio da Bélgica, de França, de Itália e de Portugal. Desde 2019, é coorganizado em Portugal pelo Teatro Académico de Gil Vicente e pelo Teatro Nacional D. Maria II. Aberto a artistas europeus dos 24 aos 34 anos, põe os selecionados em contacto com criadores de renome, proporcionando o intercâmbio de conhecimentos e de práticas artísticas.