Morangos silvestres
À frente da câmara o cineasta Victor Sjöström dá vida ao Dr.Isak Borg, que evoca o seu passado enquanto viaja de automóvel para receber o seu doutoramento honoris causa na Universidade de Lund. Bergman filma-o exemplarmente transportando o espectador por uma meditação sobre a infância e a velhice.
 
Atravessava um período terrivelmente nostálgico. O que é que nos aconteceria se, de súbito, pudéssemos voltar à infância? Julgo que foi Maria Wine quem escreveu que todos nós dormimos nas pantufas da nossa infância. Foi o que senti nessa altura. E pensei em fazer um filme, completamente realista, sobre alguém que abre uma porta existente na realidade e, de repente, ao virar da esquina, se encontra noutra época da sua existência. Diante dele, o passado desfila, vivo.
Nenhuma outra arte – nem a pintura nem a poesia – conseguem comunicar a qualidade específica dos sonhos tão bem quanto o cinema. Quando as luzes se apagam numa sala de cinema e aquele ponto de luz branca se abre para nós, o nosso olhar pára, instala-se e torna-se bastante estável. Sentamo-nos apenas ali, deixando que as imagens fluam sobre nós. A nossa vontade cessa. Perdemos a capacidade de resolver as coisas e de colocá-las nos seus devidos lugares. Somos arrastados para uma sequência de eventos – somos participantes de um sonho. E criar sonhos… aí está um trabalho sumarento.
— Ingmar Bergman